CHI-KUNG

CHI-KUNG 

Professora Lúcia Borges
Os benefícios do Chi-Kung no contexto educativo
Um recurso para o autoconhecimento. Um estímulo à aprendizagem


O Chi-Kung é uma arte da boa gestão do “Chi” (energia). É uma prática milenar e assenta sobre os mesmos princípios da Medicina Tradicional Chinesa.

Está direcionado para a promoção da saúde e da longevidade. Surgiu como uma prática xamânica de expulsão de forças negativas, cujos movimentos celebravam os processos da natureza e imitavam os animais. Ao longo de séculos e conforme o período histórico, recebeu influências de outras disciplinas, orientando-se para objetivos diversos, tais como o desenvolvimento da força interna, para aplicação nas artes marciais (chi-kung marcial), o desenvolvimento espiritual de teor mais religioso (chi-kung religioso) e o aprimoramento de sua ação no âmbito da cura (chi-kung medicinal).

De qualquer forma, e, apesar de existirem milhares de sistemas (conjuntos de exercícios, linhas, escolas), o chi-kung manteve-se, desde sempre, orientado para a promoção da saúde e alicerçado sobre os mesmos princípios da Medicina Tradicional Chinesa,  de inspiração taoísta. São eles a teoria do Yin e do Yang, a teoria dos 5 elementos e das substâncias vitais (os 3 tesouros, o sangue e os líquidos). Estas teorias possuem uma natureza muito própria, distinta das teses contemporâneas e ocidentais de caráter científico. 
Enquanto taoístas são holísticas, ou seja, apresentam uma perspectiva integral da realidade, em que a dimensão científica, filosófica, religiosa e cultural interpenetram-se. O estudo da fisiologia humana, por exemplo, está associado aos processos da natureza, mas também, aos dinamismos cósmicos.

A prática do chi-kung, por sua vez, não é uma mera reprodução de exercícios, mas sim um reviver destes processos da natureza, que estão intimamente relacionados com a nossa fisiologia. Quando fazemos chi-kung, somos um pouquinho xamãs e criadores da nossa realidade. Somos artistas a expressar a nossa forma única e pessoal de experimentarmos o universo em nós, pois ao postular a existência de mecanismos condicionadores,  o chi-kung aponta-nos caminhos para suavizarmos a sua ação em nós e para nos tornar mais livres. O chi-kung oferece-nos, portanto, uma prática de autoconhecimento, ao nos desvelar um universo de processos naturais que geram e condicionam a nossa existência, e ao nos proporcionar uma cultura de gestão harmoniosa da energia, conduzindo-nos a libertarmo-nos e a tornarmo-nos mais aptos para conhecer a natureza última de todas as coisas e de nós próprios.

O próprio conceito de “Chi” (energia) remete-nos para o caráter holístico deste saber e prática, pois  tanto se refere aos processos que se dão ao nível do nosso organismo como a processos que acontecem na natureza e no universo. Na prática do chi-kung, vivemos este caráter integral, trabalhados com o corpo-mente, unidos num só gesto, através da consciência da respiração. Ativamos igualmente os hemisférios cerebrais, integrando tanto o raciocínio como a sensibilidade e a intuição. Trabalhamos também de forma integral ao incluirmos vários tipos de inteligência tais como a percetiva e a emocional, a mental-racional, a mental-intuitiva e a da consciência. Ao trabalharmos desta forma, desbloqueamos, muitas vezes, dimensões do Ser (da pessoa), que estava, de sobremaneira, condicionado, ajudando-o a expressar-se num tipo de registo apenas. Portanto, além dos benefícios em termos da saúde física e mental, este trabalho integral liberta-nos para outras dimensões ontológicas. Ao fazê-lo adquirimos imensa força anímica que nos impulsiona cada vez mais para a autodescoberta.

Tendo isto posto, penso não ser difícil concluir o quão interessante o chi-kung pode ser num trabalho multidisciplinar para o incentivo da aprendizagem, pois o próprio chi-kung é um convite ao aprender e ao crescer contínuo, através de uma escuta e prática harmoniosas do corpo, em uníssono com a alma, a natureza e o universo.



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